O maior Museu Oceanográfico da América Latina, Em Piçarras

Uma das minhas grandes paixões é o mar e quando mergulho sinto que estou em outro mundo. Há uma imensidão para se descobrir nesse universo azul e no Museu Oceanográfico Univali (MOVI), em Piçarras, é uma boa oportunidade de entender mais sobre os mistérios do mar. O museu tem uma história de origem muito bonita, quando seu curador, Jules Solto, aos 5 anos de idade, coletou a primeira peça de seu acervo no litoral gaúcho, uma pequena sardinha e colecionou até hoje juntamente com diversas espécimes, expondo desde 2015, com a abertura do museu.

É o maior museu oceanográfico da América Latina e está entre os quatro principais acervos de história natural do Brasil, então já da para imaginar a importância de visitar esse lugar. O museu é organizado em 7 alas, são módulos dispostos em ordem filogenética, ou seja, dos organismos mais primitivos e antigos (esponjas, corais, moluscos…) aos mais complexos e evoluídos (peixes cartilaginosos, peixes ósseos, répteis marinhos, aves marinhas e mamíferos marinhos). O percurso pode ser feito autoguiado, em um ambiente que remonta o oceano, escuro e com alguns sons ambiente.

Ala azul: HISTÓRIA DA OCEANOGRAFIA

Para começar, você encontra alguns itens que eu não imaginava encontrar expostos no Brasil, como fósseis das algas azuis, meteoritos que chegaram à Terra há 4 bilhões de anos, ovo original de dinossauro, garra de velociraptor e dentes de tiranossauro-rex! Podendo ver a evolução desde a era paleozoica até o surgimento do homem.

Há algumas peças raras relacionadas as mitologias do mar, como a estatueta de terracota, com idade estimada de 300 anos antes de cristo. Objetos históricos, coletados por Jules Solto em vários países, desde a imagem da Colympha, que teria sido utilizada no império de Alexandre o Grande, para mergulho em 322 aC., ao posterior período helenístico. As peças de arte mostram a importância do Estado marcado pela talassocrocia (domínio das rotas marítimas), como refletiu nas artes, em que a arte grega diferente da egípcia que era mais bidimensional, começa a fazer uma releitura das formas do mar, curvas e tridimensionais.

Mas não era só beleza nos mares, havia disputas com armas e algumas lendas como o “diablito do mar”, trazido da Espanha, um corpo de raia recortado, que era transformado para assustar os jovens marinheiros (marujos de 14 anos), durante a noite no século 18, para que não saíssem dos alojamentos durante a noite. Essa lenda deu a origem a lenda do chupa-cabras, pois diziam que o diablito chupava cabras à noite.

Apaixonados por mergulho, preparem-se para ver algumas peças raras! Como o escafandro criado por Charles Pearson, utilizado em garimpo de ouro e diamante, era o único produzido na América Latina. Posteriormente substituído pelo Aqualung, na década de 1940, inventado por Jacques Cousteau e Émile Gagnan , consistindo num cilindro de ar comprimido com regulador de mergulho, há um modelo original exposto, teve peças vindas de diferentes países.

Outro importante nome no mergulho é Hans Hass, um dos pioneiros do mergulho autônomo, em que inventou vários equipamentos, criando a primeira máquina fotográfica subaquática e vários livros. Há também um painel mostrando os tipos de pesca e extrações de recursos oceânicos que foram possíveis com a evolução dos equipamentos de mergulho.

Ala vermelha: INVERTEBRADOS (conchas, lulas, corais, algas, estrelas do mar, camarões…)

Com a maior coleção de conchas do Brasil e segunda da América Latina (90.000 espécimes), é possível encontrar a maior concha e caramujo do mundo. Tridacna gigante, considerada a maior concha do planeta. Ao lado do O Caurim dourado, uma raridade para os colecionadores, com tonalidade alaranjada.

Vocês encontraram a Lula-gigante, com cerca de quatro metros, vive em grandes profundidades (1000 a 2000 metros), acreditam que deve ter sido encontrado na costa de Penha por ter sido pega por uma baleia Cachalote que a regurgitou.

E o Raro coral vermelho do Mediterrâneo, utilizado para jóias, ele é tão precioso que é chamado de ouro vermelho, valorizado desde o tempo dos egípcios.

Ala verde: CARTILAGINOSOS (lampreias, quimera, tubarão, raias…)

O museu possui a maior coleção privada de tubarões e raias do mundo (9.900 espécimes)! Um dos motivos do museu ser reconhecido mundialmente, são as 87 espécies de tubarões presentes no MOVI.

São diversos tamanhos e alguns bem raros. Entre os curiosos tipos, o tubarão-espinhoso, que tem esse nome pela textura da pele, há apenas 8 espécimes conservadas no mundo, e quatro estão nesse museu. Com o bico diferente, o tubarão-duende consegue expandir a mandíbula para frente. E menor do que minha mão, o menor tubarão do mundo.

O painel com várias mandíbulas facilita entender o porque da identificação dos tubarões quando há um ataque ser feito pela mordida, pois cada um tem um formato, como se fosse uma digital.

Em Noronha havia uma forte conscientização sobre como os tubarões não são perigosos como a mídia propaga, porém quando vejo um tubarão-branco, como esse, continuo com meu medo desses bichinhos, sendo que esse é o mais veloz.

Há um corredor em que podemos caminhar sobre as raias (popularmente chamadas de arraias), parece que há qualquer momento vamos cair, mas é interessante, já que encontramos elas na natureza provavelmente perto dos nossos pés.

Ala marrom: ÓSSEOS (peixes como salmão, pescada, abissais…)

Sim, mais uma ala que tem uma das maiores coleções, essa é de peixes marinhos do sul do Brasil (7.300 espécimes). Há também alguns objetos nessa seção, como uma espada feita com um peixe espada e moedas chinesas. No centro da sala, destaca-se o peixe baiacu-de-espinho, inflado, pronto para se proteger na escuridão do mar.

Para atrair crianças é possível ver nos aquários alguns animais de espécies que estão no filme “Procurando Nemo”.

Ala cinza: RÉPTEIS (Tartarugas, serpentes…)

Sim, a maior coleção de tartarugas marinhas da América do Sul (400 espécimes). Curiosamente, diferente da infinidade de espécies que existem de outros animais, há apenas 7 espécies de tartarugas conhecidas no mundo, 5 delas encontramos no Brasil. A maior de todas, a tartaruga-de-couro (popularmente chamada de tartaruga-gigante), no museu há um filhote empalhado, com 750kg, que foi encontrado em Itapema, em 1998.

Foi reproduzido um ninho de praia, mostrando o processo para elas conseguirem eclodir dos ovos e escavar até a superfície. Há também objetos feitos com as carapaças das tartarugas, mostrando um pouco o motivo delas terem sido extintas.

Ala bege: AVES MARINHAS (pinguins, gaivotas…)

A segunda maior coleção de aves marinhas do Brasil (650 espécimes), com ovo de pinguim rei da Antártida.

Ala preta: MAMÍFEROS (baleias, golfinhos, lobos e leões-marinhos…)

Finalizamos com a maior coleção de mamíferos marinhos do Brasil (600 espécimes). O final reserva um grande ballet nas profundezas do mar, impressiona a grandiosidade das ossadas montadas e suspensas de orca, baleia-mink, falsa-orca, boto-da-tainha e cachalote pigmeu (foto da capa desse post). Diferente de outros museus, em que os esqueletos ficam em estruturas de ferro, fios de aço substituem estruturas pesadas e ficam quase que imperceptíveis. Esse detalhe é um dos reflexos dos 230 museus visitados pelo curador, antes de ser feito o MOVI. Uma curiosidade, é observar que dentro das nadadeiras, os ossos lembram muito a estrutura de uma mão.

Ao lado dos dentes talhados, há um exemplar do livro Moby Dick, um livro clássico que conta a história do cachalote enfurecido, de cor branca, que havendo sido ferido várias vezes por baleeiros, conseguiu destruí-los.  Importante lembrar que a região em que está o museu teve sua base na caça da baleia, por muitos anos até entrar em crise e substituir pela pesca.

Há exemplares de todas as famílias de golfinhos do mundo no museu, inclusive o golfinho Toninha, que só existe na região sul do Brasil, e que tem previsão de extinção em 2027.

Como visitei o museu em uma aula do mestrado, pude visitar algumas salas técnicas não abertas ao público. Das 200 mil peças que o museu possui, apenas 1.300 estão expostas ao público. As coleções estão abertas a especialistas que queiram examinar espécimes. O museu nesses dois primeiros anos de existência, já recebeu 15 mil crianças em grupos de escolas.


Importante que nenhum animal foi caçado/morto para fazer parte da coleção, por mais que o museu tenha autorização, os animais foram coletados por Jules Solto e estudantes que passaram pela Univali nos últimos 20 anos, principalmente no acompanhamento e monitoramento da pesca industrial na região.

Na parte externa há um grande painel com 50 metros de comprimento, que busca mostrar a dimensão da imensidão do mar, já que os oceanos tem em média 4 mil metros de profundidade. Podemos perceber o quanto somos pequenos em relação a grandiosidade dos animais marinhos, como a Baleia Azul (o maior de todos os animais que já existiu na terra, com 33,6 metros), o maior tubarão já medido (12,65 metros), o peixe lua (mais longo peixe-ósseo com 8 metros) e o maior dos invertebrados, a lula colossal (14 metros).

A visita é um bom programa para se fazer em duas horas, para conseguir ler e ver com calma as informações. No final da visita há uma loja com souvenires e livros sobre a temática. A edificação é de um antigo campus da Univali, ainda não há um café, está previsto no projeto de ampliação do museu, que se transformará em um Parque Oceanográfico.

Será feito um edifício para o tubarão-baleia com 9 metros, que hoje esta imerso em formol em uma piscina. O único no mundo preservado inteiro, já que geralmente os animais conservados possuem até 1 metro, ele inspirou o mascote do museu, o Tuba.

É interessante agendar sua visita para ser acompanhado por um guia, podendo acessar a salas de coleção que acomodam os acervos e o laboratório. Tivemos o acompanhamento do historiador Alberto Fronza e do jornalista Romulo Porthos, o que com certeza nos ajudou muito a compreender mais sobre o tema. Para agendar uma visita mediada deve-se enviar um e-mail para educacao.movi@univali.br informando o dia e período desejados (manhã ou tarde) e o número de pessoas do grupo.

Museu (Facebook)
Aberto todos os dias, das 14 às 18h.
Endereço: Avenida Sambaqui, 318 – Bairro Santo Antônio – Balneário Piçarras (às margens da BR 101).
Estacionamento gratuito.
Telefone:  (47) 3261-1287 / (47) 3261-1403
Ingresso:
Inteira: R$ 20,00
Meia:R$10,00 (Funcionários da Univali, estudantes e idosos pagam meia-entrada.)

 

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Uma resposta para “O maior Museu Oceanográfico da América Latina, Em Piçarras”

  1. Isabela Belli disse:

    Que descritivo completinho 😀
    Realmente é um local muito legal de ser visitado e vale a pena.
    bjs

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