Meu primeiro trekking, Cânion Espraiado – Urubici/SC

Há 3:30h de distância de Itapema (como quem já acompanha o blog, sabe que é onde eu moro) está a base para subir ao Cânion, ou seja, precisamos acordar pela madrugada para chegarmos no horário combinado com o grupo.  A base fica há 34 km do centro do município de Urubici, no caminho para a Serra do Corvo Branco. E antes que surja a dúvida, por mais que também esteja na Serra Geral, não faz parte dos cânions existentes na divisa entre os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, o espraiado faz parte do planalto Campo dos Padres.

Combinamos as 8:30h da manhã para chegada a base, uma casa com trailer na frente. Algumas pessoas chegaram no dia anterior e acamparam (R$35 por pessoa/podendo usar o banheiro) na Pousada Beckhauser, do Beca, que nos acompanhou na trilha levando várias piadas e comidas (a famosa geléia de fisalis). Encontramos com o Carlos  Eduardo Madona (Kadu), canionista da operadora EcoXperience, assinamos o termo de responsabilidade, fizemos os últimos ajustes e fomos para mais perto da serra, onde estacionamos os carros, próximo a Pousada Cantinho da Serra.

O Cânion Espraiado está dentro de uma propriedade privada, a guia e proprietária Carol Munareto e seu irmão Douglas, nos acompanharam durante toda a estadia. Para acessar as terras é necessário contato prévio (contato no final do post), ou com contratação de empresas ou guias credenciados por eles. Isto facilita a manutenção da estrada, trilhas e garante a segurança de quem visita o local.

Como devem ter percebido, as trilhas já descritas aqui no blog sempre foram feitas de maneira autoguiada, e sempre tento colocar os mapas ou indicações para fazerem sozinhos. Mas dessa vez minhas amigas, Débora e Fabi, me convidaram para ir com o grupo para esse trekking, no primeiro momento relutei, pois tinha um preconceito de trilhas em grupo, porém, percebi que seria uma chance de ter apoio de uma operadora especializada em uma atividade que ainda não tínhamos experiência.

Estacionado o carro, foram passadas algumas informações ao grupo e começamos a nos alongar. Ao lado estava a Pedra da Águia, um paredão de arenito com 130 metros. Tudo estaria normal, se não fosse um susto que levamos nesse local, que vocês podem ver no vídeo!

Após o acontecido, seguimos o caminho, abrindo a porteira da RPPN Leão da Montanha, que possui um projeto de pesquisada sobre pumas. Num percurso dentro de um vale de araucárias, a nossa esquerda estava o Rio Canoas, o mais extenso de Santa Catarina (570km), ele se une ao Rio Pelotas para formar o Rio Uruguai.

Nos primeiros 10 minutos de trilha, a minha mochila de iniciante estava pesando na subida íngreme, como eu tenho escoliose, já fiquei pensando se eu aguentaria. Mas pensei bem, se eu tinha decidido pelo desafio do trekking, uma das partes principais era vencer o percurso com a mochila nas costas (auto-suficiência). Quando eu vi que tinha passado uma hora de trilha, a dor estava igual a do começo e não estava piorando, percebi que poderia encarar muitas horas de trilha ainda, e já estava mais satisfeita e orgulhosa de mim mesma.

Como estávamos com uma empresa organizando, havia a possibilidade de colocar a mochila, remoção em caso de incidentes ou desistir do percurso a pé e ir com a caminhonete 4×4 que nos acompanhava, mas o grupo todo conseguiu fazer o percurso.

Paramos no caminho para almoçarmos nossos lanches, eu e as meninas levamos sanduiches feitos por nós. Esperamos o grupo todo, cada um no seu ritmo, chegar no mesmo tempo, paramos próximo há uma bifurcação, que devemos seguir pelo lado direito, passando por um mirante com à primeira vista para o cânion.

Depois de um belo caminho, com direito até a avistar um Búfalo sobre um dos morros, chegamos no refúgio da montanha e largamos nossas mochilas para ir logo ver o cânion de perto, já que o céu estava aberto. O objetivo inicial era de deixar as mochilas e subir o Morro da Antena, que possui visual de 360 graus do Campo dos Padres, mas deixamos para ir no domingo pela manhã.

Analisamos acampar na borda do cânion, porém o vento estava forte e a previsão da noite era que fosse piorar. Como estávamos com uma barraca daquelas grandes, mais apropriada para acampar num camping normal, pensamos que ela não suportaria o vento, ainda mais no solo de turfas, então resolvemos acampar há alguns metros do refúgio.

Pegamos bastante de chuva no percurso de carro, e subimos a trilha com tempo nublado. Como o cânion está a 1.466 metros de altitude, enquanto Urubici está a 900 metros de altitude, o tempo pode ser bem diferente nos dois locais, já que o vento no cânion é forte e dissipa as nuvens mudando rapidamente o cenário. O jeito é ir e contar com a sorte, o bom é que com a influência do vento na altitude elevada fica mais difícil as nuvens estacionarem.

Aproveitamos para caminhar pela borda do Cânion, é cênica a imagem da formação geológica dos paredões escarpados com cachoeiras que chegam a ter 700 metros de altura, trabalhada pela erosão nos últimos 130 milhões de anos.

Assim como a diversidade de fauna e flora, o som do vento, caminhando por turfas- um solo úmido típico de campo de altitude, em que a camada de solo é pequena sobre a rocha, ficando encharcado, o que lembra o que existe na Rota das Cachoeiras, em Corupá/SC.

A paisagem das turfas forma um plano típico de Game of Thrones, com apenas algumas araucárias teimosas aparecendo. E por dentro do cânion a vegetação atlântica transborda vida, há piscinas naturais entre as pedras e cachoeiras, uma visão única. A imponente cachoeira do Adão (homenagem ao pai da Carol), com 85 metros de altura, é feito rapel em dias mais quentes, e eu já quero voltar logo para ter essa experiência!

São 3 km de ida e volta para percorrer a borda do cânion, e é possível ver a estrada da Serra do Corvo Branco e bem ao fundo o Morro da Igreja- considerado o ponto mais frio do Brasil. Durante nosso passeio, o João Batista da Clicatrip, registrou algumas fotos e vídeos nossos.

Voltamos, montamos nossa barraca embaixo das árvores e ao lado do slackline. No refúgio, nos organizamos para tomar banho e fizemos algumas amizades durante a fila de espera. O refúgio possui energia elétrica, fogão a lenha e banheiro com chuveiro elétrico, reservando com antecedência da para se hospedar dentro, em cama de casal ou em beliche. Também há wi-fi, facilitando a comunicação com a família, já que não há sinal de celular. Optamos por acampar, pois era uma oportunidade de acampar no campo selvagem e ao mesmo tempo estar em segurança, por estar em grupo.

As 19h foi servido um jantar no celeiro do abrigo, em voltar de fogueiras, quentão, piadas e lendas da montanha. O casal Mauro e Carlise, fez vaca atolada, arroz, e farofa com linguiça Blumenau. O frio estremecia lá fora e nós estávamos protegidos no celeiro, ainda mais depois de duas garrafas de vinho que tomamos em 3.

Fomos dormir as 22:30h, estávamos exaustas, e era meia noite quando escutei vozes ao lado da barraca, e ouvi eles comentando sobre estar chovendo dentro da barraca, eu tentei pensar por alguns minutos que eu não precisaria me preocupar, pois estava tão quentinho dentro do saco de dormir. Porém coloquei a mão na barraca e estava com a parede molhada e os primeiros pingos caiam do teto, acordei as meninas, jogamos todas as nossas coisas dentro dos mochilões e levamos para o celeiro. Pedimos ajuda para os meninos da barraca ao lado, e carregamos nossa barraca montada com o colchão dentro no meio da chuva e escuridão até o celeiro, muito obrigada pela ajuda Matheus e Tom!

Mas o que mais assustou nessa noite foram os trovões, pois ao contar o tempo entre o estouro e a luz, cada vez o intervalo era menor, o que nos remetia que estava cada vez mais perto e nós embaixo de árvores. Dentro do celeiro nos sentimos seguras e continuamos a dormir.

No domingo, o retorno estava previsto para as 14h, iriamos subir o Morro da Antena, mas como estava chovendo, adiantamos a volta para as 11h. Tomamos café com o pessoal, organizamos as mochilas cargueiras e voltamos. Quase no final da trilha passamos o riacho que na ida estava com nível abaixo das pedras, agora com água gelada até o joelho, foi só mais aventura.

Nesse final de semana tivemos muitos aprendizados. Desde a diferença entre as palavras Hiking e Trekking, enquanto as trilhas que fazia até o momento eram Hiking, sendo bate e volta no mesmo dia, sem acampamento. Já o Trekking geralmente está relacionado a caminhadas mais longas, em áreas isoladas e havendo acampamento.

Mas o mais importante, foi encarar um novo desafio, para relembrar quem somos, quando saímos do nosso conforto. Além de poder carregar todas as coisas necessárias para a sua sobrevivência, é uma oportunidade para se desconectar de todos os problemas e trocar por adrenalina, com pensamentos positivos. Essa desconexão permitiu conhecer pessoas apaixonadas por viagens, com amor pela natureza e com bom astral para encarar os desafios, foi um prazer conhecer essa turma! Assim mudei meu conceito de fazer trilha em grupo e vi como pode enriquecer a experiência.

Além desse atrativo, a região de Urubici há outros lugares que vocês deveriam conhecer, entre eles o Morro da Igreja, Pedra Furada,  a Cascata do Avencal e a Serra do Corvo Branco, que fazem parte do roteiro clássico de quem conhece a região pela primeira vez.

Estão na minha lista voltar ao cânion para fazer o rapel, subir a Pedra Furada e o Morro Boa Vista, a mais alta elevação do estado de Santa Catarina, com 1.827 metros de altitude.

Como ir:

Há algumas operadoras de ecoturismo na cidade, mas nosso trekking foi organizado pela EcoXperience (Kadu) e Cânion Espraiado (Carol), com o custo de R$120,00 por pessoa (incluindo condutores locais + seguro ecotrip + jantar tropeiro + carro de Apoio + acesso ao cânion).

Se quiser ir sem operadora, entre em contato com a Carol, para acessar o cânion é cobrada uma taxa de R$20,00 por pessoa e se for acampar R$30. Para dormir em cama no refúgio é cobrado mais R$50,00 por pessoa, além da taxa de entrada.

Se não está querendo fazer a caminhada, pode relembrar a época dos tropeiros, há a opção de fazer a subida à cavalo por R$200,00 por pessoa, em passeio de 4 horas. Pode combinar para fazerem almoço ou janta. Ou subir, com translado 4×4 deles, sendo R$100, 00 por pessoa em grupo de 4 pessoas ou R$150,00 por pessoa para dupla.

Para o rapel, é necessário agendar com antecedência num grupo com no mínimo 5 pessoas. Custa R$ 160,00 por pessoa, com rapel guiado de 86 metros, incluindo no valor fotos de cima e de baixo e seguro Ecotrip.

*Celular não pega, melhor agendar com antecedência.

EcoXperience
Telefone: (48) 98805-5055 (Kadu)
E-mail: carlos.ed.madona@gmail.com

Cânion Espraiado
Telefone: (49) 99153-1473 (Carol)
E-mail: canionespraiado@gmail.com

ClicaTrip
E-mail: contato@clicatrip.com.br
Instagram e Youtube


O que levar:

•     Mínimo de 500 ml de água por pessoa.
•     Repelente de insetos
•     Capa de chuva
•     Bota de trilha impermeável ou galocha (lama e turfas)
•     Protetor solar
•     Celular / Câmera Fotográfica
•     Saco para lixo
•     3 pares de meias grossas (escuras, para não manchar)
•     Gorro/ Luvas (vento forte sobre o cânion)
•     Mochila de no mínimo 50 L (estilo cargueira – com fitas barrigueiras)
•     Saco de dormir
•     Barraca de ataque
•     Isolante/colchonete térmico
•     Lanterna de cabeça
•     Bastão de caminhada (eu não tinha, mas vou querer na próxima)
•     Kit pessoal: talheres, caneca, pote

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3 respostas para “Meu primeiro trekking, Cânion Espraiado – Urubici/SC”

  1. Daniela C Anderle disse:

    Gostei do relato .
    A subida é muito dificil?

    Vou fim de semana para lá estou curiosa rsrs

  2. Gostei muito do seu relato.

  3. Obrigado pela parceria.. até a próxima.

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